Membros do Corpo de Cristo
Cap.
4:1-16 – As exortações nos primeiros dezesseis versículos do capítulo 4
pertencem à primeira esfera – a assembleia, o corpo de Cristo. Estes versículos
apresentam uma bela ilustração do que a Igreja, como o corpo de Cristo, devia
ser neste mundo, de acordo com a mente de Cristo. Não é levado em conta o fracasso
no testemunho da Igreja, como é visto no Cristianismo hoje, mas nos mostra o
ideal de Deus.
Vs. 1-3 – Estes começam por
nos exortar a “andar como é digno”
da nossa “vocação”. Nós podemos
perguntar: “Como podemos andar dignos da nossa vocação?” O Mistério revela que
fomos chamados a um lugar privilegiado, como membros do místico corpo de
Cristo. Andar como é digno de tal vocação é manifestar esse fato neste mundo. Deus
pretende que o vaso de testemunho (a Igreja), que Ele está formando para a manifestação
de Seu Filho ao mundo vindouro, deva dar expressão da verdade que é um só corpo,
mesmo agora, enquanto está aqui neste
mundo. Paulo não entra em detalhes nesta epístola sobre como a Igreja deve
fazer isso, mas simplesmente menciona que nós devemos manifestar a unidade que demonstra
a união que nós temos no corpo. É a primeira coisa prática que o Senhor ordenada
aos membros do Seu corpo como sendo adequada à união que os membros têm em “o Cristo” (1 Co 12:12-13).
Expressar na prática a
verdade de o um corpo requer dos membros do corpo estarem num correto estado de
alma. Isso é abordado no versículo de abertura do capítulo, ao serem exortados “no Senhor” (v. 1 – ATB). Envolve dar
ao Senhor Seu lugar de direito em nossas vidas, ao reconhecer a autoridade de
Seu Senhorio sobre nós em assuntos práticos – o que implica estar em um correto
estado de alma. Então, há também a necessidade de “toda a humildade e mansidão, com longanimidade”, e suportarmos “uns aos outros em amor” (v. 2). Andar
juntos em uma unidade prática exigirá o exercício destas coisas por cada membro
do corpo.
“Humildade”
mantém o ego inativo e “mansidão” dá
lugar aos outros. Elas andam juntas (Mt 11:29; Ef 4:2; Cl 3:12). A mansidão é
interagir com outros, de modo a não lhes
ofender (1 Co 4:21; 2 Co 10:1; Gl 6:1; 2 Tm 2:24; Tt 3:2). Humildade, por
outro lado, é não nos ofender quando
interagimos com alguém que não é manso (Nm 12:3 – JND Nota de rodapé). “Longanimidade” é exercitar paciência
na presença da deficiência do outro, e “suportando-vos
uns aos outros em amor” é ignorar ofensas pessoais. As duas primeiras
coisas são o que precisamos em nós mesmos; as duas seguintes são o que
precisamos para com os outros, quando eles não estão exercitando as duas
primeiras. Em suma, devemos usar longanimidade e paciência na presença daqueles
que não são mansos e humildes.
Estas coisas práticas devem
ser exercitadas em vista de “guardar a
unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (v. 3). Nós podemos perguntar:
“Que é exatamente a unidade do Espírito? É
uma unidade prática entre crentes que
o Espírito de Deus está formando para dar expressão da verdade do único corpo”.
Colocando de uma maneira simples: Deus deseja que haja uma manifestação prática
da verdade do “um só corpo”. Ele quer que coloquemos em prática aquilo que é
verdade de fato, e o Espírito de Deus está trabalhando para esse fim com os
membros do corpo de Cristo.
Esta unidade encontra seu
centro em Cristo. Falar de unidade e trabalhar para isso sem reconhecer a
autoridade de Cristo como sendo o seu fundamento é uma obra da carne. Também,
guardar a unidade do Espírito envolve estar em comunhão com aqu’Ele que é
chamado “o Espírito de santidade” (ATB)
e “o Espírito de verdade” (Rm 1:4; Jo 14:17). Isso significa que os membros do
corpo não somente devem reconhecer a autoridade de Cristo em todas as coisas, mas
também devem andar em “santidade” e “verdade”. Isso envolve separação de
tudo que é inconsistente com Sua Pessoa, pois Ele é chamado “o Espírito Santo”. Se princípios divinos são sacrificados para alcançar
unidade, essa não é a unidade do Espírito. O ecumenismo moderno, por exemplo, é
uma unidade feita pelo homem; não é a unidade do Espírito. Portanto, a “unidade pelo vínculo da paz” a que
Paulo se refere aqui não é a paz a qualquer preço, mas paz que resulta de
Cristo tendo Seu lugar legítimo e crentes sendo sujeitos ao Espírito de Deus. Portanto,
a unidade do Espírito é a unidade que reconhece a autoridade do Senhorio de
Cristo e está separada de tudo que é profano em doutrina e prática.
Note que não somos chamados a
guardar a unidade do corpo. Essa união Deus Mesmo mantém, pois apenas Ele o
pode fazer. Nada pode quebrar esse vínculo que os membros têm com Cristo – a Cabeça
ascendida. A unidade do Espírito, por outro lado, é algo prático que os membros
do corpo são responsáveis por guardar. Assim, enquanto todos os Cristãos têm união com Cristo, talvez nem todo
Cristão ande na unidade do Espírito.
Nem devemos pensar que a
unidade do Espírito é apenas uma exortação para a unidade numa comunhão da igreja
local; é mais do que isto. Esta unidade tem em vista o único corpo, como o
próximo versículo afirma – “há um só
corpo” (v. 4). Uma vez que os membros do corpo de Cristo não estão em
nenhuma localidade, mas espalhados por todo o mundo, esta unidade deveria ser
vista onde quer que os Cristãos estejam na Terra. Deus quer que os Cristãos universalmente (em todas as localidades)
andem juntos nesta unidade, dando expressão ao fato de que eles são um corpo. O
ato do partimento do pão é uma confissão prática desta verdade (1 Co 10:16-17),
mas a Igreja também deveria manifestar a unidade do corpo em assuntos práticos
de comunhão e disciplina As epístolas aos Coríntios desenvolvem este lado da
verdade.
Nos primeiros dias da Igreja,
esta unidade era guardada. Os santos estavam “todos concordemente” (At 2:1 – ARF, 4:32), mas é triste dizer, não
permaneceu assim por muito tempo. C.H. Brown dizia: “Evidentemente, a unidade
do Espírito deve ter sido quebrada.” J. N. Darby dizia: “Ananias e Safira foram
os primeiros a interrompê-la (At 5); depois disso, você encontra os Helenistas
murmurando contra os Hebreus (At 6).” O fato de nos ser dito que devemos nos “esforçar” (ATB) ou usar “diligência” significa que haverá resistência
em fazê-lo por conta do mundo, da carne e do diabo. Portanto, guardar esta
unidade requererá energia de nossa parte.
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