O CARÁTER PECULIAR DE BÊNÇÃO
QUE O EVANGELHO DA GRAÇA DE DEUS APRESENTA
Paulo
continua explicando que o que Deus está agora fazendo, no chamado do evangelho,
é algo totalmente diferente do que foi ensinado pelos profetas do Velho Testamento,
a respeito da bênção dos gentios. No versículo 6 ele menciona três coisas exclusivas que caracterizam o
presente chamado de Deus, em graça, pelo evangelho:
Em primeiro lugar, o versículo 6 diz: “Que os gentios são co-herdeiros”. Esta citação da KJV (N. do T.: e
das em português também) infelizmente não é a melhor tradução. Uma mais precisa
interpretação seria: “Que os que são
de (entre) as nações são co-herdeiros” (JND). Esse presente chamado de
Deus pelo evangelho não é a
introdução de toda a massa das nações gentias a Jeová, como anunciado no Velho
Testamento, pelo qual eles teriam um lugar sob Israel, no reino do Messias (Zc
2:11, 8:22-23; Is 11:10, 14:1, 56:3-7, 60:1-5; Sl 22:27, 47:9, 72:10-11). Isso
é uma conversão exterior das nações gentias quando virem Cristo na glória do Seu
reino. Eles se unirão em submissão ao Deus de Israel pelo temor do julgamento;
não haverá, necessariamente, uma obra de fé nos seus corações (Sl 18:44-47,
66:1-3, 68:28-31; Is 60:14), embora que muitos serão verdadeiros (Ap 7:9-10). Portanto
o que Paulo estava anunciando era o chamado especial dos eleitos para “fora”, de entre as nações, os quais têm
sido predestinados por Deus para compartilhar um lugar com Cristo, em Seu
corpo. Portanto ele fala, “Que os que
são das nações são co-herdeiros” (JND). Assim isso era “a conversão daqueles das nações” (At 15:3 – JND). Não era a
conversão das nações como um todo, a qual, como temos dito, acontecerá no
futuro. No presente chamado do evangelho, Deus está visitando os gentios para “tomar deles um povo para o Seu nome” (At 15:14). Ele também
está tirando alguns crentes judeus para “fora”
do seu lugar anterior, na nação de Israel, com o mesmo propósito. Paulo era um
exemplo disso. O Senhor disse a ele, “levando-te
para fora de entre o povo [Israel]...”
(At 26:17 – JND).
Este movimento em graça para
com os judeus e os gentios com o evangelho é uma coisa inteiramente nova nos
caminhos de Deus. Isto não tinha sido revelado nos tempos do Velho Testamento.
Judeus e gentios, como
entidades nacionais distintas, ainda permanecem na Terra hoje enquanto o
chamado do evangelho é pregado, e eles continuarão a existir no dia vindouro.
Mas agora há também uma
terceira entidade – “a Igreja de Deus”
(1 Co 10:32). Isto é algo distinto e separado dos outros dois, e não deveria
ser confundida com eles. Por isso, nesta presente Dispensação da Graça, Deus
está chamando judeus e gentios crentes para fora
das suas posições anteriores e trazendo-os para dentro de algo novo – a Igreja.
O próprio significado da palavra Igreja (“Ekklesia” em grego) é, “os chamados para fora”. Isto muito
apropriadamente expressa este chamado especial pelo evangelho hoje. Crentes de
entre os judeus e gentios estão, “de
antemão”, crendo (cap. 1:12-13 – ARA) antes do dia, quando o remanescente de
Israel e as nações dos gentios serão trazidos a Deus.
Em segundo lugar, versículo 6 indica que crentes de entre os gentios seriam
formados em um “corpo-conjunto” (JND)
com crentes de entre os judeus. O Mistério revela que judeus e gentios, que creem
no evangelho, são formados num organismo vivo (um corpo-conjunto), que
funcionaria para o gozo de Deus, no qual a mesma vida e as características do
próprio Filho de Deus seriam manifestadas. Este “um só corpo” seria o resultado do Espírito de Deus habitando nesses
crentes e os ligando juntos a Cristo – a Cabeça no céu (1 Co 12:13). O corpo de
Cristo é algo inteiramente novo que Deus está formando e não é encontrado no
Velho Testamento. Cristo reinará sobre
Israel e as nações gentias (Sl 93:1; Is 32:1), mas em lugar algum é dito que
Ele reina sobre a Igreja, a qual é Seu corpo.
Em terceiro lugar, esta companhia de judeus e gentios crentes são “co-participantes da promessa em Cristo Jesus” (ATB). Esta promessa
não tem conexão com aquela que foi feita aos patriarcas, nos tempos do Velho
Testamento. Aquelas promessas feitas a Abraão, Isaac e Jacó foram dadas durante
suas vidas, mas esta promessa foi feita “antes
dos tempos dos séculos” (2 Tm 1:9; Tt 1:2). Esta é a promessa de “vida eterna”, que é distintamente uma bênção
do Novo Testamento. Vida eterna, que é ter um relacionamento consciente com o
Pai e o Filho (Jo 17:3), não era conhecida pelos santos do Velho Testamento. Os
santos do Velho Testamento não sabiam do relacionamento do Pai e o Filho na
Divindade, e somente esperavam ansiosamente viver para sempre na Terra, sob um Messias
reinando. (Sl 133:3; Dn 12:2). Vida eterna é um caráter especial de vida, que o
Pai e Filho gozavam na eternidade passada, à qual Cristãos têm sido introduzidos
por meio da habitação do Espírito. (Jo 4:14). Foi vista primeiramente quando
Cristo veio ao mundo e manifestou a vida eterna, que antes estava “com o Pai” no céu (1 Jo 1:2).
Vemos destas três coisas que
o que Paulo estava ensinando era algo completamente diferente das promessas
feitas aos pais. Não era um cumprimento de alguma maneira das profecias do
Velho Testamento – isso é o erro da Teologia do Pacto. Como mencionado, a introdução
desse chamado celestial da Igreja não interfere com o plano de Deus para abençoar
Israel na Terra com os gentios debaixo deles, durante o reinado do seu Messias.
A conversão em massa dos gentios acontecerá num dia vindouro, mas a conversão daqueles de entre os gentios está
acontecendo hoje pelo chamado do evangelho.
Ao dizer que estas coisas
divulgadas no Mistério relativo à Igreja são nossas “pelo evangelho” (v. 6), aprendemos que a verdade do evangelho e a verdade
da assembleia estão ligadas. Assim, toda obra do evangelho deve ser conduzida tendo
em vista a assembleia. No evangelho apresentamos Cristo, o Salvador; ao ensinar a verdade da Igreja apresentamos Cristo, o Centro. Ambos estão
intimamente ligados. Deus deseja que quando uma pessoa é salva, seja encontrada,
daí em diante, funcionando no corpo como Deus a colocou.
As grandes pedras, que eram
trazidas com o propósito de construção do templo, ilustram isso. Elas não eram
somente cortadas do lugar onde eram encontradas (1 Rs 5), mas elas eram trazidas
ao lugar do templo e colocadas para dentro da casa (1 Rs 6). Apenas extrair as
pedras da pedreira não era um fim em si mesmo. Semelhantemente, as pedras vivas,
que compõem a casa de Deus hoje – a Igreja (1 Tm 3:15), têm sido salvas com o
propósito de atuarem na Sua casa para a Sua glória. Mais tarde nesta epístola
Paulo fala dessa conexão novamente (cap. 4:11-16). Os “evangelistas” eram para trabalhar com os “pastores e mestres” com vista à “edificação do corpo de Cristo”. Querendo que almas sejam salvas
sem vê-las atuar no seu lugar no corpo está aquém do propósito de Deus para elas.
O propósito do evangelho é trazer para dentro o material que irá compor a Igreja.
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